segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Conto de encantaria - O navio de D. João

Fazia tempo que eu nada postava mas como canta minha eterna madrinha "filho da mamãe Dita não pode bambear, se bambeia no caminho mamãe Dita vai buscar..." por isso o blog bambeou mas não caiu.

Para voltar com estilo e respeito saudando esse torrão brasileiro a qual tenho orgulho de pisar postarei hoje um conto retirado do encarte do cd "Baião das princesas" um trabalho colectivo do grupo paulista "A Barca" e a Comunidade da Casa Fanti Ashanti do Maranhão.

Arte: Igor Giamoniano


O Navio de D. João

" O terreiro do Egito¹ ficava sobre o Rio Itaqui, porto importante próximo ao mar, numa área de antigos quilombos.
uma das grandes atrações do Baião das Princesas, que deslocava dezenas de pessoas para assistir a festa, era o navio encantado de D. João.  Todo, os anos, esse navio chegava ao Egito no dia 12 de Dezembro, e lá permanecia ancorado, 'a vista de todos, por três ou quatro dias. Sua chegada e partida eram anunciadas pelo vodum chefe da casa e cumprida a risca.
    Na hora anunciada, o navio se aproximava deixando ver em seu interior uma grande movimentação. A distancia era suficiente para se ver a decoração do navio, suas bandeirolas e sua iluminação que chegava a clarear a encosta do terreiro durante a noite. Via-se então pessoas saltando do navio e pegando pequenas canoas a remo, e enquanto essas canoas se aproximavam da margem, a música já soava no barracão e as dançantes iam entrando em transe com os encantados chegados principalmente os nobres, Reis e princesas como D. João e sua família, D. Carlos da Gama, Rei Sebastião, D. Luis de França e Manoel Pretinho, o piloto do navio.
    Ao termino dos festejos, o navio ia embora, mas não se podia vê-lo sumir no horizonte. Ele se afastava cerca de trezentos metros em direção ao mar, e então afundava lentamente nas águas do Itaqui. Sua ultima aparição foi em 1978, um ano antes da extinção do terreiro centenário."

¹ O Terreiro do Egito foi fundado em 1864 por uma africana de Gana.

A encantaria
 A encantaria é uma tradição magica que mistura crenças da cultura popular indígena e europeia mesclados ao catolicismo popular, os cultos afro's e o espiritismo. No seu panteão consta uma variedade de seres como sereias, princesas, Reis, mestres, caboclos, boiadeiros,  etc... Alguns sãos espíritos que viveram a muito tempo e "se encantaram" outros são energias que vivem em um plano vivisivel apenas a alguns mediuns. 
 Por trás da aparente simplicidade a encantaria esconde grandes mistérios transmitidos de geração a geração, de terreiro a terreiro a centenas de anos, os iniciados na arte da encantaria possuem o segredo da manipulação dos elementos alem de possuirem grande afinidade com a natureza pois com ela vivem em constante harmonia. 

 
 A mamãe ta chorando - Casa Fanti Ashanti e A Barca

A mamãe ta chorando por que eu vou me encantar
A mamãe é culpada, da mãe d'gua me levar

A mamãe ta chorando por que eu vou me encantar
A mamãe é culpada, da mãe d'gua me levar

O não chora não chora mamãe 
O não chora não chora papai
A mãe d'gua me leva
A mãe d'gua me leva
A mãe d'gua me traz...




Fontes: 
Comunidade da Casa Fanti Ashanti e A Barca
À sombra da Jurema: A tradição dos mestres juremeiros na Umbanda de Alhandra - http://www.yorubana.com.br/encantados.asp 
Encantaria - Wikipedia -  http://pt.wikipedia.org/wiki/Encantaria