segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Kimbanda

Exú e Pomba Gira                                                                                             Arte: Igor Giamoniano

 Paz e luz a todos
Hoje faproveitando o carnaval, falarei de um tema polemico que nem deveria ser tão polemico assim...
A kimbanda.

Porque as opiniões se dividem tanto?
Muitas vezes por falta de fundamento histórico, a maioria das pessoas respondem o que é a kimbanda na prática através dos mistificadores, outras dão sua própria explicação falando por cima que a kimbanda é de esquerda e a umbanda é de direita (o que de certa forma não esta errado, mais esta
incompleto). A verdade é que a kimbanda é muito mais importante pra umbanda
do que pensa a maioria das pessoas.

Historicamente o que é kimbanda?
Kimbanda é uma palavra bantu que significa apenas Sacerdote, a kimbanda inicialmente era um culto primitivo dessa nação africana aos Nkisis, aos espíritos dos ex's chefes dos cultos (os Tátas) e dos ancestrais
(makungu), em breve resumo ao chegarem ao Brasil os bantus sincretizaram seu culto aos cultos da nação Yorubá relacionando o orixá Exu aos Tátas.
Aos rituais ligados aos tátas os bantus recorriam a Kálunga-Ngonbe o senhor da morte. Para esses rituais os bantus ja há muito tempo utilizavam a pemba (que foi sacralizada a partir do contato dessa nação com os árabes) alem da polvora, bebidas, perfumes (todos conhecidos pelos contatos com os árabes).

A prática ritual da Kimbanda tradicional
O kimbanda (sacerdote) também é um Nganga (feiticeiro) o rito de iniciação do Nganga consiste no mesmo ficar por um período determinado isolado na floresta até que seja manifestado por um espírito, assim que isso acontece a pessoa adoece e começa a ter visões. O Nganga da tribo trata da doença e após a cura a pessoa ganha a capacidade de ver e se comunicar com os seres da floresta.
  - O Muzambo
O muzambo é o método de adivinhação do Kimbanda, no qual ele posiciona uma tabua de madeira chamada muxacato, feito do pedaço de uma árvore mafumeira (ocá) - e o mona - um pauzinho que será esfregado no muxacato, esses objetos são sacralizados previamente amarrados e postos em contato com terra de sepultura e raizes. O Quimbanda então risca com a pemba os simbolos sagrados do muzambo, primeiro traça cruzes nas costas das mãos depois na mona, no muxacato ele fara um risco longitudinal e 3 transversais. Em seguida o kimbanda esfregará o mona no muxacato, ao longo do corpo do consulente fazendo perguntas sobre o problema deste. Se o mona deslizar livremente a resposta é não, se emperrar a resposta é sim.
   - Xinguilamento
O xinguilamento é quando um espírito tenta se manifestar em uma pessoa qualquer, as pessoas próximas a essa então devem chamar um kimbanda que através de um ritual invoca o espirito e verificara a autenticidade do transe passando pela lingua do incorporado uma agulha e uma brasa ardente.
Atestada a autenticidade do transe o kimbanda conversa com o espírito que pode ser um makungu (ancestral) ou divindades especies de catiças dos Nkisis.

Umbanda e Kimbanda: Entre a cruz e a encruzilhada
A Umbanda tem grandes semelhanças aos ritos bantus, o uso de bebida e fumo para magnetização, a incorporação de ancestrais (preto-velhos), a pemba como instrumento ritual, os orixás e os exus são todos elementos que veem dos Bantus sincretizados com os Jéjes. Em meio a isso tudo realizava-se ainda o sincretismo com os santos católicos, os indios e posteriormente o kardecismo francês. Dentro da kimbanda tradicional foi-se então adicionada a moral cristã e indigena, e fora expandida por todo territorio nacional principalmente no Rio de Janeiro de onde veio a consolidação dessa nova religião de unificação de tantos sistemas e culturas na pessoa de Zelio Fernandino de Morais e do espírito do Caboclo das 7 Encruzilhadas.

A Kimbanda hoje
A umbanda unificava os ritos Omolokos e Bantus, porem tais tribos possuíam suas rivalidades, enquanto de um lado estava umbanda, a kimbanda  havia se tornado uma especie de  resistência a essa nova corrente, desapegada as morais cristãs porem não conseguiu se livrar do sincretismo que viria com o tempo, relacionando os tátas, posteriormente exus aos demonios judaico-cristão. Hoje a kimbanda esta banalizada, uma série de pessoas mal-intencionadas praticam magia negra se passando pelo nome de kimbandistas, outras correntes de kimbanda ainda possuem um trabalho mais serio com os exus e pombogiras mais ainda com mentalidade de resistência a umbanda sendo desapegados a moral cristã, deixando a cargo das entidades julgarem por si só o que é e o que não é correto, como descreveu Diana Brown antropologa da Universidade de Indiana "Os Exus parecem afirmar o poder e autonomia do indivíduo e exercer seus próprios interesses em contraponto os interesses e os códigos morais estabelecidos pelo Estado, a sociedade e a família" e muitas vezes cultuando demônios com o auxilio de um manual medieval de
demonologia chamado "Gran Grimorium".

Considerações
Ainda a muito estudo se fazer sobre a formação da umbanda e dos cultos africanos no Brasil, foram anos de marginalização e preconceito, há muitas informações a serem averiguadas e impressionantes relatos de uma época nem tão distante assim.
O ponto mais importante é que a umbanda é uma religião de sincretismo, foi formada dessa forma e dessa forma evolui, por isso vemos por ai tantas correntes, todas com sua forma própria de trabalho e evolução sendo vistoriadas pelos guias no astral. A umbanda sabendo da importãncia dos Exus e Pombogiras os sincretizou em sua gira moralizando os espíritos que se apresentam nessa linha e seguindo a máxima "tudo que esta acima é como o que esta embaixo" mais isso é assunto para outro post.

















Exu 7 Porteiras                                                                                                                Arte: Igor Giamoniano






Fontes bibliograficas:

Seu Osvaldo de Exu Rei (Babalorixá Omotobàtála) - Exu na lei de kimbanda

Diana G. Brown - Social Science Research Concil - Umbanda - American Anthropological Association (1988)

Nei Lopes - Kitábu: O livro do saber Africano - O Universo espiritual dos ambundos (conforme Ribas, 1985)

Alice Webner - África, mitos y leyendas - Mitologia Bantu que influenciou os cultos Afro-Brasileiros

Mário Teixeira de Sá Junior - Entre a Kimbanda e a quimbanda: Encontros e desencontros - Universidade Federal Fluminense

2 comentários:

  1. Ola hj seu blog esta iluminado e esclarecedor adorei esta de parabens...

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  2. Olá, aí ta o q tanto me deixou curiosa!!! Rsrsrsrssss...
    Mas uma vez vc me surpreendendo, gostei muito...
    Vc ta de parabéns, a postagem e as fotos ficaram maravilhosas.
    Bjux

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